Aplaquei, caminhei, cheguei.
Em casa, Sima, minha filhote de beagle, veio me receber e, esperando algo a mais, aguardou em meus pés próximos à porta. Sentei ao chão ali mesmo e fiquei com ela por alguns minutos. Ela, sentindo o mesmo sentimento que eu, se deitou em meu colo na tentativa de me confortar. Infelizmente, o que faltava não poderia ser buscado como um brinquedo após ser lançado ao vento. Não poderia ser encontrado com uma busca minuciosa com a lanterna do celular e muito menos identificado em um detector de metais, ainda que tentasse.
Minutos após o delivery chegar, decidi me alimentar. Gastronomia sempre foi uma das minhas grandes paixões. Vieiras meu prato favorito. Sempre me fascinei em prepará-las frescas e misturar sabores que nunca foram vistos antes. Fascinado eu era pela delicadeza de um ser que vive no interior de uma casca tão resistente.
Relembrei, suspirei, superei.
Abri a embalagem da massa que havia pedido. Não tinha fome. Bebi duas taças de Cabernet Sauvignon, Solaia 2007 (melhor safra já vista, superando a própria 2006 cuja qual era apaixonado) e mal senti sua grandeza. Decidi ir para o banho. A água sempre me encantou. A fluidez, a versatilidade, a importância para a vida, as propriedades intrínsecas. Amei por muito tempo esse elemento que forma a nós e todas as coisas, como dito por Tales. Entendi e pesquisei muito suas palavras mas hoje te decepcionei. A água quente que corria em meu corpo de nada servia. Ela que me compõe, leva-me como último desejo e faça de mim algo que restaure vida e saciedade.
Elucidei, me lavei, continuei.
Me assustei com alguns latidos da Sima e apressei meu “sem propósito” banho para ver o que a afligia. Não era nada. Só não gostava de ficar sozinha. E tem como culpá-la?
Indo para a cama, decidi abrir o jornal do dia. Sem muitas boas notícias, deixei de lado. Peguei um teórico de Nietzche e tentei estudar por alguns minutos. Essa tese vai ter que esperar mais uns dias, sussurrei para mim mesmo. Olhei para a janela e vi vários jovens conversando e se divertindo na rua. O retorno das batidas rítmicas e graves em meu peito pareceu instantâneo. Pareciam 10 dias mas se passaram 10 anos. Tentei me lembrar onde tinha me perdido. Qual caminho peguei e me fez ser o que sou. Sima me acompanhou até a cama e se aconchegou em meus braços. Não me restava mais nada.
Aceitei, me deitei, nunca mais acordei.
João Vitor Gonçalves
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